(...) Raul queria provar o seu amor. Para isso decidiu praticar um crime. Todos o condenam, decerto. No entanto, o que ninguém pode negar é que a sua prova, embora de um egoísmo atroz, não fosse a mais concludente, a maior prova de amor, como lhe chamava. "Só se ama por interesse. Não se ama um corpo disforme". Ele possuia uma criatura ideal; pois bem, destruiria toda a sua beleza. O seu amor não diminuiria... pelo contrário. Morto o corpo, amaria a alma só com a sua alma. Isto tudo são loucuras, sei perfeitamente. Apenas no cérebro dum doido podem nascer tais pensamentos. Nós, os "homens de juízo", não pensamos nessas coisas, não pensamos em muitas coisas porque aceitámos a vida tal como ela é, tal como se convencionou que ela fosse; porque nos habituámos a ela. Raul não se habitou. (...)
"Mário Sá-Carneiro"
Um abraço ZéTó Etiquetas: Livros, pois |